O mercado de ouro e de gado, que também influenciam outros setores, como o de extração de madeira, são os principais componentes que têm pressionado o desmatamento na região, conforme aponta o pesquisador Paulo Barreto, do Imazon. Enquanto o aumento do preço do gado de 58% em 2018 e de exportação para China foram grandes incentivos para o desmatamento pela agropecuária, o aumento de 40% no preço do ouro desde 2018 foi um grande incentivo para o garimpo. Somam-se a esses fatores a redução da fiscalização ambiental em 35% em 2019 em relação a 2018 e que continuou menor em 2020, juntamente com as demonstrações de interesse do presidente Bolsonaro pela regularização fundiária para invasores de terra. Outras ações do governo federal, como o Projeto de Lei 191 enviado no começo deste ano ao congresso, que libera exploração econômica de recursos hídricos, pecuária e mineração dentro das TIs, contribuem com o atual cenário de degradação ambiental e ameaça às populações indígenas e tradicionais. Em reconhecimento à luta em defesa dos territórios tradicionais e contra o garimpo ilegal, a líder índigena munduruku Alessandra Korap Munduruku recebeu esta semana o Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos (EUA) e declarou que utilizará o valor recebido para fortalecer a luta dos munduruku contra o aumento do desmatamento na região do Tapajós que é resultado do processo de expansão do mercado com a perspectiva da construção da ferrovia Ferrogrão.
Em 15 de outubro, a Fundação Cultural Palmares (FCP) publicou no Diário Oficial da União a Portaria de certificação da Comunidade Lagoinha da Cobra em Caetité – BA. Se a FCP continuar nesse lento ritmo de certificação, vai demorar décadas para certificar as mais de três mil comunidades quilombolas que ainda não foram certificadas, sendo esse o primeiro passo para a regularização fundiária dos territórios quilombolas. A falta de titulação do território restringe o acesso a outros direitos básicos dos quilombolas, como políticas públicas específicas de saúde e educação. Para piorar, Jair Bolsonaro propõe para o
Congresso Nacional, uma proposta orçamentária para 2021, que retira 90% das verbas para o reconhecimento e indenização dos territórios quilombolas. Vale a pena ver a entrevista da Maíra de Souza Moreira, assessora jurídica da Organização Terra de Direitos e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), à Marilu Cabañas, do jornal Rede Brasil Atual.
Alguns nomes como Ziel Karapotó, Gaciela Guarani e Gilmar Kiripuku, entre muitos outros, vem representando um crescimento da produção cinematográfica realizada por indígenas no país. A reportagem da Folha de S.Paulo mostra como essas produções vem se repetindo com cada vez mais frequência no país, com produções de filmes e clipes e que tratam sobre o etnocídio contra os povos indígenas e as ameaças do Governo Bolsonaro. De um lado, está o amplo acesso à internet e à tecnologia no país, que faz cineastas de diversos povos conseguirem produzir seus próprios filmes sem a presença de estúdio e produtoras. De outro, estão os próprios festivais, que estão interessados em apresentar narrativas mais diversas e fora do eixo.
Outro levante que se consolida é o das vozes de mulheres quilombolas, que são maioria em seus territórios, costumam liderar as organizações comunitárias e são guardiãs dos saberes tradicionais. Pela primeira vez, essas mulheres estão reunidas no livro “Mulheres Quilombolas: Territórios de existências negras femininas”. A publicação ratifica a ideia de que, quando uma mulher negra se movimenta, toda a sociedade se movimenta. O selo que homenageia Sueli Carneiro tem a coordenação de Djamila Ribeiro, que, por sua vez, convidou Selma dos Santos Dealdina, do quilombo Angelim III, Território do Sapê do Norte, no Espírito Santo, que convocou outras mulheres quilombolas para colaborar na obra.
A atuação da Força Nacional de Segurança Pública em apoio às ações do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na Amazônia foi prorrogada por mais 180 dias pelo governo federal, conforme publicação no Diário Oficial da União na última quarta (14). Os militares vão atuar nas unidades de conservação federais, com ênfase no combate ao desmatamento, à extração ilegal de minério e madeira e à invasão de áreas.
Foi publicada a atualização da tabela de cobrança de ingressos de acesso às Unidades de Conservação Federais por meio da Portaria Nº 1.005, no dia 8 de Outubro de 2020, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. De acordo com a publicação, as Unidades de Conservação deverão iniciar a cobrança dos novos valores instituídos por esta Portaria a partir de 1º de novembro de 2020, devendo providenciar ampla divulgação desses valores para a sociedade.
A Justiça Federal do Amazonas negou pedido do Ministério Público Federal (MPF) para que a União e a Funai (Fundação Nacional do Índio) pedissem desculpas ao povo Waimiri-Atroari, que habitam a Terra Indígena Waimiri-Atroari na fronteira dos estados Amazonas e Roraima. O pedido, que alegava que o Estado brasileiro violou direitos fundamentais dos povos indígenas e foi omisso na condução de políticas a favor da população, chegou a ser aceito pela Justiça de primeira instância, mas teve a liminar suspensa pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região. A Advocacia Geral da União (AGU) sustentou que as manifestações do Presidente da República, este que se referiu aos povos como ‘pré-históricos’ e que ‘vivem em zoológicos’ que atrapalham o progresso da nação na época, não demonstram natureza discriminatória em face de quaisquer indígenas ou de suas comunidades. As falas do Presidente estariam relacionadas à implantação da linha de transmissão que a empresa Eletronorte pretende cruzar o território indígena.
Fonte: ISA