Balanço Global destaca necessidade de pacto internacional para orientar ação climática
19 de novembro de 2025 às 21:08h
Em painel na Zona Azul da COP30, representantes de governos, ciência e sociedade civil defenderam um compromisso ético mundial para acelerar a implementação das decisões climáticas. Discussões integram a agenda oficial do Balanço Ético Global, um dos quatro círculos de liderança da conferência
Autoridades, especialistas e representantes da sociedade civil defenderam, na última terça-feira (18/11), a necessidade de um compromisso ético global para orientar os esforços internacionais de enfrentamento à mudança do clima. O tema guiou o painel de alto nível “Balanço Ético Global: um Mutirão Ético pela Ação Climática”, realizado na Zona Azul da COP30.
O encontro apresentou a trajetória do Balanço Ético Global (BEG), iniciativa que integra a arquitetura de liderança da COP30 e que tem reunido, ao longo do ano, contribuições de diversos setores — comunidades indígenas, sociedade civil, governos locais, setores religiosos, academia e juventudes — para consolidar princípios éticos que auxiliem a implementação dos acordos climáticos já assumidos.
A abordagem do BEG busca oferecer, nas palavras dos participantes, uma “bússola ética” para a ação climática global, complementando diagnósticos técnicos e fortalecendo decisões que dialoguem com justiça, solidariedade e responsabilidade compartilhada.
Durante o painel, foi ressaltada a importância de construir um direcionamento comum que alinhe valores éticos e compromissos concretos. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, destacou que o processo inaugura “um mapa para nos direcionar ao ponto seguro de um modelo mais justo, mais sustentável, que não deixe ninguém para trás e que permita viver em paz entre nossas sociedades, conosco mesmos e com a natureza”.
Ela também alertou para o avanço de uma “ética de circunstância”, caracterizada pela relativização de fatos e pela fragilização de valores fundamentais. Segundo a ministra, o esforço global precisa se assentar em princípios que deem estabilidade ao compromisso com justiça e liberdade.
A ex-presidente da Irlanda e colíder do Diálogo Regional do BEG na Europa, Mary Robinson, apontou que a mobilização ética amplia a noção tradicional das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Ao resgatar discussões do encontro “Conferência Espalhando Esperança”, realizado em Roma, Robinson afirmou que emerge, agora, algo que chamou de “contribuições determinadas pelos povos” — um movimento que reflete as expectativas sociais por respostas mais ambiciosas diante do aquecimento acima de 1,5 °C.
Para Robinson, “as pessoas querem ação climática” e demonstram preocupação crescente com ecossistemas sensíveis como os recifes de coral e a Amazônia.
A diretora da Divisão de Apoio Intergovernamental e Progresso Coletivo da UNFCCC, Cecilia Kinuthia-Njenga, relembrou a experiência do primeiro Balanço Global do Acordo de Paris, concluído na COP28, e destacou como o BEG avançou na ampliação da participação social. Segundo ela, os seis diálogos regionais promovidos ao redor do mundo “foram uma oportunidade real para que todas as vozes participassem do processo”.
Cecilia também afirmou que valores éticos já começam a influenciar, de maneira concreta, negociações multilaterais: “Princípios como justiça, solidariedade e responsabilidade compartilhada estão orientando decisões que serão tomadas”.
Para a campeã de Juventude da COP30 e mediadora do painel, Marcele Oliveira, o encontro é “um marco rumo ao maior objetivo do Balanço Ético Global: inspirar decisões multilaterais mais justas, humanas, inclusivas e coerentes com o tamanho da emergência que enfrentamos”.
O processo do BEG está alinhado aos compromissos firmados por quase 200 países sobre energias renováveis, eficiência energética, combate ao desmatamento e transição justa. Os diálogos regionais — realizados em todos os continentes — reuniram lideranças indígenas, representantes políticos, religiosos e comunitários, além de cientistas, artistas e ativistas.
Essas discussões consolidaram recomendações que serão entregues à Presidência da COP30 e à UNFCCC em um Relatório Global, reunindo diretrizes prioritárias para chefes de Estado e negociadores. O documento traz princípios de justiça, equidade, solidariedade e cooperação multilateral, com foco na implementação dos acordos climáticos já estabelecidos, especialmente o Acordo de Paris e as decisões da COP28.
As conclusões reforçam a urgência de transformar modelos de produção e consumo para manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C. O processo inclui, ainda, Diálogos Autogestionados, que ampliam o alcance local e comunitário do BEG.
Além de guiar decisões mais justas, o objetivo é integrar recomendações às Agendas de Ação da COP30, influenciando áreas como desenvolvimento humano, finanças climáticas, transição justa, biodiversidade, cultura e educação.
Fonte: Site COP 30 – Por Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima