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Crianças com alimentação vegana seguem vida saudável

30 de dezembro de 2019 às 16:40h

Mães e filhos com dieta sem produtos de origem animal vencem o preconceito

Elas optaram por seguir uma alimentação vegana por questões éticas e transmitiram para seus filhos esses hábitos alimentares e filosofia de vida. A escolha de ter uma dieta sem produtos de origem animal, ao contrário do que muitos pensam, não traz riscos à saúde das crianças, bebês ou gestantes.

A estudante Tailinny Viana, 27 anos, se tornou vegana há 5 anos. Nessa época, sua primeira filha, Mel Viana Paiva, 7 anos, aderiu à mudança. Quando explicou para filha que comer carne causa sofrimento aos animais, a pequena não se opôs e acompanhou o pensamento da mãe. Hoje, Mel, por conta própria, fica de olho em tudo que come. Quando alguém oferece algum alimento, ela logo pergunta se tem ingredientes como ovo, leite e manteiga. Porque quando tem carne ela recusa logo de cara.

Para Tailinny, é uma educação mais ética porque as crianças entendem desde cedo de onde vem o alimento. Tanto ela quanto o marido são ativistas em causas de defesa dos animais. Isso, na visão dela, estimula o comportamento da filha. Depois de Mel, Tailinny teve mais uma filha, a Sol, 1 ano. Foi uma gravidez com alimentação toda vegana e saudável, segundo ela, sem intercorrências. Na gestação foi acompanhada por médicos que não eram especializados em dietas vegetarianas e mesmo assim se sentiu respeitada em sua escolha.

Ela reconhece que algumas mulheres sofrem uma forte pressão da sociedade ou mesmo no atendimento de saúde quando decidem manter a opção de ser vegana na gestação, mas acredita que o que faz diferença nesses casos é o posicionamento firme da mulher. “Quando a pessoa se torna vegana por um posicionamento político e ético, dificilmente ela vai ceder, ela vai ter mudado a consciência dela então não importa a pressão”, completa.

Ane Conte, 34 anos, autônoma, teve duas filhas, as duas com gestação vegana. Ela diz que a família ficou preocupada com a saúde dela durante a gravidez, por isso procurou uma obstetra que já era acostumada a atender mães veganas. “As pessoas que convivem mais perto da gente se preocupam e dizem que vão faltar vitaminas para o bebê”, conta.

Segundo Ane, a gestação foi tranquila, com suplementação apenas da vitamina B12, por precaução. Hoje as filhas vivem saudáveis e por influência de familiares são vegetarianas e não veganas. Comem alimentos como queijo e ovos, por exemplo. Ane diz que ensina, mas que não pretende impor nada às filhas. “Todo pai tem que dar o direito ao seu filho de escolha. Deixo elas livres para decidirem como querem viver.”

Maria Helena Moreira da Silva, 1 ano e 6 meses, nunca comeu alimento de origem animal

A analista de telecomunicações Ariana da Silva Pinho, 28 anos, não sofreu pressão da sociedade porque já era vegana bem antes de engravidar. Ela e o marido já eram vegetarianos quando se conheceram, há 11 anos, então a família achou natural a filha seguir o mesmo estilo de vida dos pais. “Como não temos nenhum problema de saúde ninguém questionou.”

Ela conta que sofreu preconceito quando decidiu adotar esse posicionamento, mas com o tempo as pessoas foram se acostumando. No aniversário da filha de 1 ano serviu tudo vegano para os convidados que, segundo Ariana, saíram satisfeitos da festa. Na visão de Ariana, basta dar uma boa alimentação para as crianças. “Eu e várias outras mulheres somos a prova viva de que tudo feito com responsabilidade dá certo até porque nosso organismo não tem necessidade de nenhum tipo de alimento de origem animal”, comenta.

De acordo com a nutricionista Maíra Attuch, não existe nenhum risco para gestantes, bebês ou crianças adotarem uma dieta sem proteínas de origem animal. Para ela, se a criança ou a mulher estiverem seguindo uma alimentação balanceada, tanto faz se é vegano, vegetariano ou onívoro (pessoa que se alimenta tanto de matéria vegetal como animal.)

A nutricionista Maíra Attuch afirma que não há risco em uma dieta vegana

“Os estudos populacionais não mostram deficiências nutricionais em veganos. Da mesma forma que um onívoro pode ter deficiências nutricionais um vegano também pode o que importa é uma alimentação balanceada”, afirma a nutricionista.

Segundo Maíra, ao contrário do que muitos pensam, uma alimentação vegana acaba por expandir o leque de alimentos. Está presente no senso comum a ideia de que uma dieta baseada em arroz, feijão e carne é sinônimo de saúde. De acordo com a nutricionista, não é bem assim. O ideal é buscar alimentos de maior qualidade como cereais integrais, feijões, hortaliças, legumes, verduras, frutas, sementes e castanhas. “Esse tipo de alimentação balanceada oferece todos os nutrientes que a gente precisa.”

Ela alerta ainda que, quando os vegetarianos ou veganos não têm uma dieta balanceada – ou quando comem muitos produtos industrializados, processados e farinhas -, podem ganhar peso e ter problemas de saúde. “Do mesmo jeito que um onívoro pode ter deficiências nutricionais, um vegano também pode.”

A Associação Dietética Americana (ADA), maior instituição de profissionais da nutrição dos Estados Unidos, emitiu alguns documentos oficiais afirmando que uma alimentação livre de carnes e de qualquer outro produto de origem animal pode ser forte aliada na prevenção de doenças crônicas.

O texto ainda fala que a preocupação sobre a fonte de proteínas para veganos e vegetarianos não procede. “As dietas vegetarianas que incluem uma variedade de produtos vegetais fornecem a mesma qualidade proteica que as dietas que incluem carne”, afirma a associação.

Larissa Sarmento é jornalista