Na noite anterior, de quarta-feira, o instituto havia emitido um alerta vermelho, considerado de “grande perigo”, para as faixas próximas à costa do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Contudo, já era esperado que outros Estados pudessem sentir também os impactos do ciclone.

Além das mortes, os Estados registraram diversas ocorrências:

  • Rio Grande do Sul: 23 feridos, 234 desabrigados e 331 desalojados; 52 municípios atingidos por chuvas volumosas; queda de granizo; mais de 825 mil pessoas enfrentaram falta de energia elétrica na quinta-feira.
  • Santa Catarina: Rajadas de vento chegaram a 157,4 km/h na cidade de Siderópolis; houve destelhamentos e estradas bloqueadas, como a BR 282.
  • Paraná: Casas danificadas e quedas de árvores.
  • São Paulo: 179 chamados para queda de árvores na quinta-feira.

Os ciclones extratropicais são centros de baixa pressão atmosférica que se formam fora dos trópicos, em médias e altas latitudes, segundo explica Estael Sias, meteorologista do MetSul Meteorologia.

“Ele é formado pelo contraste de massas de ar quente e frio. Parte da sua ação é sugar toda a umidade pra essa região do centro de baixa pressão e jogar para a atmosfera, resfriando e transformando a umidade em nuvens. É nesse processo que o fenômeno espalha chuva e vento”, diz Sias.

De acordo com o Inmet, a configuração do novo ciclone extratropical se deu entre terça-feira (11) e quarta (12/7), por meio de área de baixa pressão continental posicionada entre o norte da Argentina e o Paraguai, que ganha força e deve avançar sobre o Sul do Brasil.

Em relação às chuvas, há possibilidade de acumulados entre 70 a 100 milímetros no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

“É importante ressaltar, para comparação, que o esperado para todo o mês de julho em alguns municípios gaúchos era o total de 150 milímetros. Depois de um fim de semana que já foi chuvoso, ter esse volume alto pode prejudicar áreas urbanas, aumentando o risco de alagamento, além de impactar nível de arroios e rios importantes”, afirma a meteorologista.

Como se proteger

Em áreas mais afetadas, as recomendações pedem maior cautela. Abaixo, como exemplo, estão os conselhos da Defesa Civil de Santa Catarina:

Alagamentos

  • Evite contato com as águas;
  • Não dirija em áreas alagadas;
  • Evite pontes submersas e pontilhões;
  • Redobre a atenção com as crianças.

Deslizamentos

Fique atento:

  • A postes e árvores com inclinação;
  • Qualquer movimento de terra ou encostas próximo à sua residência;
  • Aparecimento de rachaduras em muros ou paredes.

Ventos fortes

  • Busque um local abrigado, longe de árvores, placas, postes e outros objetos que possam ser arremessados;
  • No local abrigado, fique longe de janelas.

O que são ciclones extratropicais

Comuns na história climática brasileira, os ciclones extratropicais costumam se formar no extremo sul do país, entre o Rio Grande do Sul e Argentina e Uruguai, países vizinhos.

Seus ventos são mais fracos e seus efeitos têm duração menor em comparação com os ciclones tropicais.

“Ciclones extratropicais no Oceano Atlântico se formam toda semana, dezenas deles às vezes. Mas é comum que se formem perto do polo sul, muito distante. Por isso não mencionamos na previsão do tempo – um ciclone extratropical a mil quilômetros da costa não vai causar nenhum efeito para a população”, aponta Sias.

A diferença do fenômeno que vemos agora é que, assim como os que ocorreram no mês de junho e no ano passado, sua área de formação fica mais proxima à costa atlântica, fazendo com que a população sinta os efeitos.

“A formação não é tão rápida quanto a de um tornado, por exemplo, que acontece em minutos”, aponta Ana Avila, meteorologista e pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

De acordo com Sias, o aquecimento global tem contribuído para o surgimento de ciclones extratropicais atípicos, que podem se formar com mais rapidez e causar impacto maior.

Elementos como o fenômeno El Niño, que aumentam a umidade, acabam potencializando ainda mais a força das chuvas.

Ondas no mar

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Cidades litorâneas também devem sentir maiores impactos

Há risco de alagamentos, deslizamentos e enxurradas, assim como destelhamentos, danos nas redes elétricas e quedas de árvores e galhos.

Os riscos variam de acordo com a região e a intensidade com a qual o ciclone deve atuar. Por isso é importante sempre estar alerta às recomendações da Defesa Civil e outros órgãos competentes na sua cidade e Estado.

Em cidades ao sul do país, com maior risco de alagamentos, as recomendações dos órgãos competentes vão desde procurar abrigo seguro a não entrar em contato com águas.

Cidades litorâneas também devem sentir maiores impactos.

“Os ventos ficam mais fortes próximos ao mar, assim como as ondas, que podem chegar a quatro metros de altura. Por isso, é essencial que toda atividade marítima, como a pesca, seja cancelada”, explica Avila.