Pantanal e Cerrado têm primeiro semestre com mais queimadas desde 1988
27 de junho de 2024 às 21:12h
Em quase todos os biomas brasileiros houve aumento do número de queimadas no primeiro semestre, em comparação ao mesmo período de 2023. A única exceção é o Pampa, que tem sido atingido por chuvas devastadoras.
No Pantanal, entre 1 de janeiro e 23 de junho, foram detectados 3.262 focos de queimadas, um número mais de 22 vezes maior que o registrado no mesmo período no ano passado (+2.134%). É o maior número da série histórica do INPE, iniciada em 1988.
Com a temporada seca ainda em seu início – o maior número de incêndios costuma ocorrer entre agosto e outubro, com um pico em setembro – o Pantanal já teve mais queimadas que em 2020, quando foram registrados 2.534 focos entre 1 de janeiro e 30 de junho. Naquele ano, incêndios descontrolados consumiram um terço da área do bioma e estima-se que tenha matado mais de 17 milhões de animais vertebrados.
De acordo com especialistas, o aumento das queimadas no Pantanal em 2024 está associado principalmente à crise climática, já que o bioma vive uma seca severa. As chuvas escassas e irregulares nos primeiros meses de 2024 foram insuficientes para transbordar os rios e conectar lagoas e o Rio Paraguai, o principal do bioma, atingido níveis baixos para esta época do ano. “Uma combinação de fatores têm colaborado para o aumento das queimadas no Pantanal. Podemos destacar as alterações climáticas, o desmatamento na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal, além da atuação do El Niño que traz um período mais seco no caso das regiões Centro-Oeste Brasileiro. Todos esses elementos afetam diretamente o ciclo de chuvas e o acúmulo de água no território,” afirma Cyntia Santos, analista de Conservação do WWF-Brasil.
Entretanto, além das mudanças climáticas, as queimadas no Pantanal também estão associadas à ação humana no Cerrado, já que os biomas estão interconectados. O desmatamento no Planalto do Cerrado, onde estão as cabeceiras dos rios que abastecem a Planície Pantaneira, contribui para a seca extrema no Pantanal.
No Cerrado, entre 1 de janeiro e 23 de junho, foram detectados 12.097 focos de queimadas, um aumento de 32% em comparação ao mesmo período em 2023. É também o maior número da série histórica iniciada em 1988. Foram 4.085 focos só nos primeiros 23 dias de junho. No primeiro semestre deste ano, 53,3% das queimadas registradas no Cerrado ocorreram nos quatro estados do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde se situa atualmente a principal fronteira de expansão agrícola do país.
Todos os estados do Matopiba tiveram aumento do número de focos de incêndios em áreas de Cerrado, entre 1 de janeiro e 23 de junho, em comparação às médias do mesmo período nos quatro anos anteriores: +60% no Tocantins (3.178 focos) +43% no Maranhão (1.927 focos), +30% no Piauí (518 focos) e +15% na Bahia (821 focos).
Outro estado onde o Programa Queimadas do INPE apontou aumento significativo do número de focos no bioma Cerrado é o Mato Grosso. O estado registrou 2.441 focos entre 1 de janeiro e 23 de junho, um aumento de 85% em relação ao ano passado, e que representa mais de 20% do total de focos do Cerrado, logo após o Tocantins (26%).
No Cerrado, de acordo com especialistas, o aumento do número de queimadas está relacionado à combinação entre as mudanças climáticas e o aumento do desmatamento, que por sua vez está associado à expansão das áreas utilizadas para a agropecuária. “O aumento de queimadas no bioma está relacionado ao desmatamento na região, mas também à crise climática. O Cerrado possui uma vegetação predominantemente savânica, caracterizada por um clima sazonal com períodos de seca e chuva. No entanto, as práticas humanas têm contribuído significativamente para a alteração do clima nesta área,” salienta Daniel Silva, especialista de Conservação do WWF-Brasil.
Entre 2003 e 2004, porém, os índices de desmatamento na Amazônia estiveram entre os mais altos da história do bioma. Em 2024, o cenário é bem diferente: o maior número de incêndios em duas décadas ocorre depois de dois anos consecutivos de queda no desmatamento.
Segundo especialistas, em geral, as queimadas na Amazônia têm ligação com o desmatamento, já que o fogo é utilizado para “limpar” as áreas onde a floresta ou a savana foi derrubada. Porém, em 2024 a combinação de queda no desmatamento e aumento pronunciado dos focos de fogo sugere que as queimadas desta vez estejam associadas à crise climática. O bioma passa por uma seca severa desde 2023.