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PF fez seis operações contra garimpo ilegal na Amazônia em menos de 1 mês

28 de fevereiro de 2023 às 14:28h

‘Sempre houve interesse por parte dos fiscais, os linha de frente, em combater o garimpo. Mas os cargos de direção, da parte de quem manda mesmo, não havia esse interesse’, diz um agente do Ibama que atua na região.

Polícia Federal fez ao menos seis operações contra o garimpo ilegal na região da Amazônia em um período de menos de um mês.

Desde o decreto de crise de saúde no território indígena Yanomami, em Roraima, reflexo da invasão do garimpo no território, as forças de segurança mobilizaram operações contra a mineração ilegal. As ações tinham como alvos desde quem atuava no território, até quem estava nos bastidores envolvido com a distribuição do ouro e lavagem do dinheiro.

A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão e de prisões preventivas em operações contra um esquema de lavagem de dinheiro proveniente do comércio de ouro ilícito e contra organizações criminosas que atuam na compra de ouro ilegal em Roraima e que contrabandeiam o ouro extraído de garimpos ilegais no estado. Também foi realizada uma operação de combate à extração ilegal de minério em uma fazenda no Pará.

Agentes da PF também realizaram operações em conjunto com o Ibama para inutilizar a infraestrutura do garimpo ilegal. A primeira delas foi no dia 4 de fevereiro e destruiu duas máquinas de garimpo na região às margens das terras indígenas Ituna-itatá e Arará Volta Grande do Xingu, no sudoeste do Pará.

A segunda teve início no dia 10 de fevereiro na Terra Indígena Yanomami. Segundo a PF, “os trabalhos visam à interrupção da logística do crime, com foco na inutilização da infraestrutura utilizada para a prática do garimpo ilegal bem como a materialização das provas sobre a atividade criminosa”.

A maior dessas operações, em valor bloqueado pela Justiça, aconteceu nesta quarta-feira (15), no Pará. A ação da Justiça que mobilizou os agentes tinha 44 alvos, entre pessoas físicas e empresas, que movimentaram mais de R$ 4 bilhões com a extração ilegal.

De acordo com o Ministro da Justiça, Flávio Dino, a ofensiva recente veio de uma série de medidas adotadas pelo governo federal com a descoberta da situação de emergência no território indígena.

“Houve a decisão do Presidente da República de combater esses crimes. A partir dessa decisão, orientamos a Polícia Federal a adotar as providências legalmente cabíveis, inclusive junto ao Poder Judiciário”, diz.

A Justiça tem ações envolvendo investigações sobre o garimpo ilegal desde 2020. Para um agente da PF que atua no Pará, a demora em uma resposta, no entanto, tem relação com um problema estrutural, que é a falta de policiais na região. Na ação no estado, o efetivo foi de 100 policiais, o que só foi possível com reforço da capital, Belém.

“O tempo foi alargado porque a delegada pediu remoção e entrou outro no lugar dela, além de muitas trocas de policiais que chegam e saem nos concursos recentes. O efetivo de Santarém é muito pequeno”, conta o agente, que pediu anonimato.

De acordo com ele, todas as trocas feitas foram a pedido dos próprios agentes.

Omissão do governo Bolsonaro

O Supremo Tribunal Federal (STF) pediu a investigação de autoridades do governo Bolsonaro por possível prática dos crimes de genocídio de indígenas e de desobediência de decisões judiciais.

No pedido, o Supremo cita que há indícios de:

  • fazia mudanças em operações planejadas com as Forças Armadas;
  • liberou 29 aeronaves ligadas ao garimpo ilegal e apreendidas pela Polícia Federal;
  • não fazia o controle de tráfego aéreo de Roraima, principal meio de transporte de garimpeiros ilegais;
  • ações e omissões favorecendo o descontrole da situação de segurança e do combate a ilícitos nas áreas afetadas.

“Ressalto sempre que já temos a materialidade do fato. Agora, precisamos é delimitar a autoria”, diz o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, sobre a responsabilidade do governo Bolsonaro em relação à situação dos Yanomami.

“Há uma contradição entre a vida e a cultura destes povos e o garimpo. O problema, apesar de complexo, é bastante conhecido pela população local e pelas autoridades. O que faltava era comando, vontade política e disposição para enfrentar a situação. Isso mudou em 1º de janeiro”, afirma.

Ao longo do governo Bolsonaro, a exploração de garimpo na região Norte do país cresceu mais de 700%, chegando a 114,26 km² em 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A alta tem relação com a desarticulação da fiscalização, como o desmonte do Ibama. Fontes do órgão ouvidas pelo g1 disseram que a falta de interesse do governo federal em combater o garimpo impediu as ações de fiscalização.

“Sempre houve interesse por parte dos fiscais, os linha de frente, em combater o garimpo. Mas os cargos de direção, da parte de quem manda mesmo, não havia esse interesse, de articular com outros órgãos, como Polícia Federal, Exército, por exemplo. E isso porque não era interesse também nem para o próprio governo federal. Então, não tinha como atuar”, conta o agente que não quis se identificar.

g1 pergunto à Polícia Federal quantas operações contra garimpo na região amazônica foram realizadas de 2019 a 2023, mas não obteve resposta.

Fonte: G1